“Educação é a cultura sob limitação. A cultura é livre.”
Leon Tolstoi
Temos notado que a educação e cultura têm sido muitas vezes colocadas como opositoras. A educação é vista como chata, estadista, moralista, e estruturante das relações capitalistas, e a cultura é a pratica da liberdade. Mas na verdade ambas são partes de uma ação humana milenar, a de ensinar e aprender utilizando a práxis e sendo audaciosa.
Muitas vezes podemos optar somente em reproduzir o que nos foi colocado como verdade nos livros, cartilhas, jornais, revistas e televisão. Mas está em nossos sentidos a reflexão, a critica, sermos curiosos, ter um questionamento exigente e profundo e não acreditar nas ditas “verdades”. Para isso, basta que sejamos encorajados.
Essa ação é fundamental para o ato cognocente, ou seja, para se ter autonomia no processo de aprendizagem. E isso sem dúvida é fundamental na perspectiva de uma educação libertadora.
O PAPEL DA ESCOLA PÚBLICA
A escola pública durante séculos vem cumprindo o papel de desencorajar os jovens pobres, moradores da periferia, de serem questionadores e intelectualizados, e oferece uma educação totalmente tecnicista, valorizando excessivamente os recursos tecnológicos e o mercado de trabalho.
É assim que a educação formal, oferecida nas escolas públicas, forma milhões de jovens para o mercado de trabalho, para a cultura do consumo, disciplinando os corpos para o trabalho e perpetuando as relações estabelecidas pelo capital.
Essas ações estão respaldadas pela idéia de que os jovens se envolvem mais com a criminalidade, e que somente o trabalho pode mudar esse sentido. Muitas vezes também usamos a pobreza familiar como justificativa dessa formação para o mercado. Mas sabemos que o tipo de trabalho que esses jovens conseguem não melhora de fato sua situação, pelo contrario perpetua as relações de classe que são amaciadas pelo dinheiro.
O panorama da escola é assustador: salas de aulas noturnas para jovens trabalhadores, 60 minutos de aula para cada área do conhecimento, intervalos de 15 minutos, suspensões, livros de infração, grades, violência, obrigações, hierarquia, polícia, caderno, lápis, lousa, giz, carteiras… Há séculos a estrutura da escola pública é a mesma…
Seguindo essa premissa, a educação formal se opõe e resisti ao desejo de aprendizado dos seus estudantes, pois os jovens querem conviver, conhecer, experimentar.
Quando os quereres são conflitantes o ambiente se torna hostil, e os professores são colocados como mediadores dos conflitos entre a educação informal, que dialoga com as vontades e a realidade dos jovens, e a educação imposta pelo Estado.
Infelizmente é nesse ambiente onde o conhecimento se aloja na sociedade hoje. Nesse sentido, o enfraquecimento da escola é o enfraquecimento do saber, pois no imaginário coletivo elas são uma coisa só. Mesmo quando apontamos diversos outros atores que praticam também a educação de outras formas, não estar na escola é estar desajustado, e nesse sentido podemos apontar o sistema educacional como um todo, escola, faculdade etc. Não conseguimos ainda fortalecer a ideia de que o conhecimento e a transmissão dele se dá de diversas formas e em diversos lugares. E não conseguimos justamente pela amplitude que isso pode ter, pois não há como compreender isso, sem compreender também que é necessário outro projeto de educação para a sociedade.
EDUCAÇÃO PARA ALÉM DA ESCOLA E DA FORMALIDADE
Para subverter é necessário que os educadores se comprometam com a vontade dos estudantes, que sem dúvida é de aprender para além do currículo escolar. E esse é o grande desafio, pois desta forma se coloca a vontade do povo na frente das regras do Estado.
Infelizmente essa questão tem tomado o caminho que já conhecemos, no qual a grande maioria dos professores e outros profissionais da educação consideram que os jovens tem a tendência à não ter comprometimento com a educação, ou até mesmo de que não quererem aprender, o que leva à educação a mediocridade. O que na verdade isso esconde é a crise estrutural existente na educação, que atinge em cheio os alunos que se recusam a ter seu futuro determinado pela educação do Estado, ou seja, estudantes que discordam que a única educação necessária para a vida é a voltada para o mercado e para a imagem.
O conhecimento é uma ferramenta de poder histórica que organiza a vida em geral, e que tem um grande potencial na luta anti-capitalista como um todo. Com isso, não podemos nos acomodar na luta pela melhoria da educação formal, que funciona em pró do Estado capitalista, e só acomoda a situação política atual. Um educação que não combate o racismo, o fascismo, o machismo, e na verdade oculta todas essas problemáticas. Também não podemos acreditar na educação informal estabelecida por Ongs, Fundações e outras instituições, que são financiadas em grande parte pelos próprios capitalistas. Precisamos fortalecer a educação não formal estabelecida nas ruas, nos coletivos, nas manifestações e nas lutas, uma educação que pode ser como a cultura, que é viva e se transforma cotidianamente.
Do que estamos falando? Que é necessária a ampliação do debate sobre as necessidades da classe trabalhadora, a autonomia e emancipação do povo, desnaturalizando o capitalismo como organização política, que é quem organiza a educação da atualidade.