Os direitos da juventude

A juventude no Brasil sofre inúmeras violências, descasos, negligências e discriminação. De todos os termos o último causa maior estranhamento. Como assim? A juventude brasileira sofre discriminação? Um exemplo disso é a criminalização do funk, pois com isso se criminaliza também os jovens da periferia, já que é um dos principais estilos musicais ouvidos por eles.

São também constantes os ataques feitos pela mídia, com o apelo da relação entre juventude e criminalidade e as campanhas pela redução da maioridade penal no Brasil. Por isso, os jovens pobres são tidos por muitos como possíveis criminosos, por serem inimputáveis. Esses argumentos buscam por deslegitimar toda e qualquer forma de manifestação política da juventude.

Contudo, a quem interessa essa imagem dos jovens? Quais são os verdadeiros ganhos de uma geração inteira desacreditada? Como todos sabem a juventude é a maior força contestadora da sociedade vigente, seus modos de ser e agir entram diretamente em conflito com os padrões estabelecidos pelas gerações que as antecedem. A sua radicalidade, sua força transformadora, sua consciência critica, podem atacar diretamente a sociedade conservadora e os padrões da sociedade capitalista. Sua luta por direitos no Estado elitista e reacionário brasileiro pode gerar profundas transformações. E isso todos nós sabemos que não interessa nem a elite e nem aos nossos políticos.

Atualmente grandes ataques tem acontecido aos direitos dos jovens sem que isso ganhe repercussão. Podemos listar centenas de situações de descasos e violências. Para compreender isso, devemos fazer a seguinte reflexão. Onde se encontra a juventude de nosso tempo? Quais seriam os espaços privilegiados para o seu desenvolvimento? A escola, a rua, os centros culturais, as bibliotecas, os cineclubes, os parques, os centros esportivos e muitos outros. Contudo, esses espaços são sucateados, precários ou inexistentes. A situação de alguns deles, como as escolas, chega a ser vergonhosa. As ruas viraram sinônimo de marginalidade, e grande parte das ONGs fazem “campanhas” para tirarem os jovens das ruas. Será que não estamos ganhando mais uma vez “espelhinhos” para não lutar pelos nossos direitos?

Alguns dados relativos à situação da juventude são alarmantes. Um documento publicado pelo IPEA em 2008 afirma que “há 51 milhões de jovens entre 15 a 19 anos no país, quase 1/3 da população brasileira de 186 milhões. Deste segmento, na faixa dos 15 aos 17, apenas 48% estão matriculados no ensino médio. Nesta faixa etária, 18% estão fora das escolas e o percentual de evasão eleva-se a 66% na faixa dos 18 a 24 anos. As principais causas para tais números, no caso dos meninos é o trabalho, para as meninas é a gravidez na adolescência”.

Se essa situação precária não bastasse, o relatório prossegue “o desemprego atinge 46% do total de jovens entre 15 anos e 29 anos no contingente nacional de 51 milhões de jovens; e 50% dos ocupados entre 18 anos e 24 anos são assalariados sem carteira. 31% dos jovens de 15 a 29 anos apresentam renda domiciliar per capita inferior a meio salário mínimo, dado agravado para as mulheres e também para os negros – estes representam 70% dos jovens pobres”.

Mas, este não é a única situação. Todos os dias estamos perdendo meninos e meninas numa sociedade violenta e preconceituosa, pois a “pesquisa também revela duas das maiores causas de mortes na população juvenil: a violência e os homicídios correspondem a 38% das mortes, enquanto os acidentes de trânsito ceifam outros 27%”. Quando tratamos de jovens negros, conforme dados do Programa Juventude Viva de São Paulo, cerca de 69% dos homicídios na região de M’boi Mirim são de jovens negros.

Até quando acreditaremos na história de carochinha da grande mídia? Permaneceremos calados?

Para saber mais:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livro_juventudepolitica.pdf

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