Educação, muita treta!
Ai, tiozão sabe porque a gente num gosta de escola?
Não!
Por que é muita oreada no bagulho, muita falação?
Como assim?
Irmão, a única coisa boa da escola, são as menininha. Lá tem várias.
Tô ligado. Foda né?
Orras… se num tá ligado. Só passo por que colo da meninas e desenrolo bem com os professo.
Ai, se viu o que aconteceu com os professores no Rio ontem?
Vi. Mó covardia. Tem professor que já tá cansado e não qué mais nada, só ganha o dele, mas a maioria é firmeza. Tem que respeitá, tio.
Pode crer. Teve uns que saíram sangrando.
A policia é covarde. Ae num é o governo que paga o professor e a policia?
Tem professor que recebe do município e professor que recebe do estado, mas é tudo dinheiro nosso.
Tá vendo. O próprio governo num respeita os professor.
Foda. Mas e ai, vai colar na escola hoje?
Putz que dia é hoje?
Quarta.
Tem jogo hoje?
Não sei. Porque?
Se tiver jogo, não tem aula. É sagrado.
Nossa, desde o tempo que eu estudava. Que fita.
É quente. Hoje é só carteira vazia e losa sem lição.
Texto e foto por Joseh Silva
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Muito tem se debatido sobre o papel do trabalho do professor na produção capitalista. Realizá-lo suscita questões que merecem uma pequena discussão: até onde é correto afirmar que o trabalho docente é ou não é improdutivo? É certo que a produção de riqueza material resulta do trabalho produtivo realizado diretamente sobre o objeto pelo trabalhador manual – ou seja, a transformação de um bem material em outro bem por meio do trabalho humano, produzindo riqueza e gerando “mais-valia” –, e que os técnicos, os engenheiros, ou até mesmo o conhecimento intelectual que possui o operário, não acrescenta, de fato, valor direto e real ao produto final, não produzindo riqueza adjacente do que o próprio trabalho manual já realiza. No entanto, observar mecanicamente o processo produtivo a partir da fragmentação de seus elementos constitutivos pode nos dar falsas impressões desse intrincado processo.
Os últimos 40 anos acompanharam uma drástica reestruturação no modo de produção capitalista. Uma das formas de obter melhores resultados na produção de riquezas foi englobar num mesmo contexto de trabalho os diferentes sujeitos do processo geral. Trabalhadores manuais continuam tendo o papel fundamental na reprodução do capital, contudo, os trabalhadores improdutivos, que dão as condições necessárias ao trabalho produtivo, tiveram acentuados a sua participação nesse processo (FRIGOTO, 2001). A isto chamamos de trabalho social. Nesse trabalho, aqueles que antes eram considerados “intelectuais” são inseridos mais diretamente no processo produtivo e sofrem um processo de proletarização, com uma queda visível dos níveis salariais, e suas condições de trabalho e de vida são precarizados.
Gaudêncio Frigoto avalia que a partir de O Capital (capítulo VI) o trabalho coletivo alcançou um nível de alargamento que evidencia sua importância no atual estágio de desenvolvimento do modo de produção capitalista. Diferentes trabalhadores (produtivos e improdutivos) estabelecem relações diferenciadas com o objeto produzido, no qual há a predominância e visibilidade do trabalho produtivo, mas o conjunto dos trabalhadores envolvidos nas relações sociais de produção exerce coletivamente o trabalho produtivo. Mas o conjunto desses trabalhadores, que possuem força de trabalho de valor diverso, embora a quantidade empregada permaneça mais ou menos a mesma, produz resultado que, visto como resultado do mero processo de trabalho, se expressa em mercadoria ou em produção material; e todos juntos, como órgão operante, são a maquina viva de produção desses produtos; do mesmo modo, considerando-se o processo global de produção, trocam o trabalho por capital e reproduzem o dinheiro do capitalismo como capital, isto é, como valor que produz mais-valia, como valor que cresce. (MARX, apud FRIGOTO, 2001, p. 148)
Indicamos para o aprofundamento o livro “Proletarização do Professor – neoliberalismo na educação”, de Áurea Costa, Edgard Fernandes Neto e Gilberto Souza.
Bibliografia:
“Educação, trabalho e proletarização: O professor enquanto trabalhador docente”, CÁSSIO DINIZ HIRO